Bitcoin: Alta recente e debates sobre bolha financeira

Nas últimas semanas, o preço do bitcoin registrou uma elevação impressionante, com o contrato futuro de dezembro atingindo o ápice de US$ 105.325 em 5 de dezembro, enquanto o contrato referente a junho de 2025 alcançou marcantes US$ 110.935 no mesmo dia. Esse movimento vigoroso reacendeu as discussões entre analistas e investidores acerca da possibilidade de o mercado de bitcoin estar em uma bolha financeira.

Brett Friedman, especialista da Winhall Risk Analytics/OptionMetrics, aponta cinco elementos cruciais para analisar essa questão.

O bitcoin está em uma bolha?

Distinguir uma bolha financeira não é tarefa simples, e suas peculiaridades frequentemente só se tornam evidentes com o passar do tempo. Todavia, há indicadores que podem sugerir um mercado superaquecido, segundo Friedman.

Um desses sinais é o aumento no spread entre a volatilidade implícita e o viés de volatilidade das opções fora do dinheiro em relação às no dinheiro. No caso do bitcoin, esse spread tem apresentado alta, mas ainda não atingiu níveis considerados “exorbitantes”.

Outro aspecto é a configuração das curvas de futuros. Uma curva em backwardation, onde contratos de curto prazo são precificados acima dos de longo prazo, ou uma curva de contango achatada podem ser indicativos de comportamentos típicos de uma bolha. Desde  2017, a criptomoeda tem operado majoritariamente em contango, com contratos de longo prazo frequentemente superando os de curto prazo. Essa tendência se manteve mesmo com as recentes valorizações, sugerindo confiança dos investidores na sustentação do rally até 2025. Isso contrasta com os padrões voláteis que caracterizam bolhas de curta duração.

Histórico do Bitcoin: Altas, baixas e debates sobre bolha

Desde 2017, o bitcoin atravessou ciclos marcados por picos e quedas dramáticas. Naquele ano, atraiu atenção global ao ultrapassar os US$ 19 mil em dezembro, apenas para sofrer uma queda vertiginosa em 2018, quando perdeu cerca de 80% de seu valor e voltou a ser negociada abaixo de US$ 4 mil.

Esse declínio reforçou a narrativa de que o bitcoin era uma bolha especulativa. Diversos economistas e analistas sustentavam que o ativo carecia de valor intrínseco e que sua alta era impulsionada unicamente pela especulação. Contudo, com o passar do tempo, a criptomoeda voltou a surpreender. Entre 2020 e 2021, o bitcoin estabeleceu novos recordes, ultrapassando os US$ 60 mil, impulsionado pela entrada de investidores institucionais e pelo crescente reconhecimento como uma reserva de valor.

O ciclo continuou em 2022, quando a criptomoeda enfrentou mais uma correção substancial, chegando a valores abaixo de US$ 20 mil. Mesmo assim, muitos analistas argumentaram que, ao contrário das bolhas tradicionais, o bitcoin sempre demonstrou capacidade de recuperação e amadurecimento no mercado financeiro. Agora, em 2024, o ativo se aproxima de novos recordes, reacendendo tanto o otimismo quanto o ceticismo.

Volume, interesse em aberto e especulação

Entre os fatores analisados por Friedman está o crescimento no volume e no interesse em aberto nos contratos futuros de bitcoin. Desde as últimas eleições, os contratos Micro BTC registraram uma elevação de 2,5 vezes no interesse em aberto, enquanto os contratos de tamanho padrão permaneceram estáveis.

“Isso sugere que os traders estão confortáveis com o risco dos contratos mais distantes e confiam na sustentação do rally até 2025”, avalia Friedman. Esse comportamento do Bitcoin contrasta com a formação de uma bolha financeira, que geralmente se concentra em movimentos de curto prazo e intensa especulação.

Ainda assim, produtos financeiros associados ao bitcoin, como ETFs alavancados e ações de empresas com forte exposição à criptomoeda, continuam sob monitoramento como potenciais sinais de superaquecimento. A MicroStrategy (NASDAQ:MSTR), por exemplo, chamou atenção ao converter grande parte de suas reservas de caixa em bitcoin, intensificando os debates sobre comportamento especulativo.

Conclusão

As recentes valorizações do bitcoin reacenderam debates sobre a existência de uma bolha financeira, mas os indicadores avaliados apontam para um panorama mais intrincado. Apesar de existirem sinais de superaquecimento, não há evidências conclusivas de uma bolha iminente. O histórico  desde 2017 evidencia que, apesar dos ciclos, o bitcoin tem demonstrado resiliência e capacidade de amadurecimento como classe de ativo.

Assim como em ocasiões anteriores, o mercado permanecerá atento, avaliando se o bitcoin conseguirá manter os níveis acima de US$ 100 mil ou se enfrentará novas correções. A trajetória do bitcoin é marcada por sua imprevisibilidade, mas também pela habilidade de desafiar expectativas e consolidar-se como um ativo singular no cenário financeiro global.

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